Se você nunca pensou em visitar Moçambique, sugiro fortemente que considere. A passagem do Brasil pra cá é cara, mas taí o pulo da gata: basta combinar a viagem com a África do Sul.
Maputo fica a seis horas de Johannesburgo, pra onde o voo é mais barato partindo do Brasil, e tem muita gente que faz o combo de carro, aproveitando pra percorrer o circuito de praias da Garden Route na África do Sul. Se eu tivesse 30 dias de férias, faria assim:
Início do roteiro na África do Sul
Chegada em Johannesburgo: 1 noite caso chegasse de tarde/noite + 4 dias. No primeiro dia, procuraria o consulado de Moçambique em Joburg para aplicar ao visto, que leva de 2 a 3 dias para ficar pronto – mas cuidado, pois só dias úteis contam! Também não se esqueça de levar as reservas de estadia do booking e fotos 3×4. Os outros dias dedicaria a Johannesburgo que, ao contrário do que muitos dizem, vale a pena conhecer SIM. Algumas atrações legais são o Soweto, maior township da África do Sul – visite as Soweto towers, duas usinas inativas transformadas em arte grafitada + pilares de um bungee jump e o restaurante-bar adjunto, o Cha Pozi -, além do Museu do Apartheid e o Constitution Hill. Fora o The Neighborgoods Market, mercado de rua e hub de criadores – foi incrível conhecer alguns dos personagens da nova geração da cidade.
Ps: o lado bom de ter seu carro em Johannesburgo é que vai economizar demais em Uber, já que o serviço é extremamente caro por lá. O lado ruim é que você vai ter que dobrar a atenção ao dirigir – a mão inglesa confunde muito!
Tempo de viagem entre uma parada e outra de Johannesburgo a Vilanculos
De Maputo para Johannesburgo e vice-versa: 5 a 6 horas.
De Maputo a Tofo: 6 horas.
De Johannesburgo a Tofo: 12 a 13 horas.
De Tofo a Inhambane: 30 minutos a 1 hora.
De Inhambane a Vilanculos:
Moçambique
Maputo: 1 a 2 dias pra conhecer a cidade e descansar das 5 a 6h de viagem antes de dar a esticada até as praias moçambicanas. Ao chegar na fronteira entre África do Sul e Moçambique (chamada Le Bombo), tenha em mente que o tempo de trâmites (inspeção do carro + checagem do visto) pode variar. Tenha em mãos o seguro do automóvel e documentos do seguro-viagem de cada passageiro e certifique-se que o carro tenha os equipamentos obrigatórios, como dois triângulos, estepe e extintor.
saiu de jozi às 1h e chegou em lebombo às 6h; dirigiu direto da fronteira pra Tofo e chegou 14h. De inhambane pra maputo foram 5h e de Maputo pra Jozi, 6h
Tofo: 3 dias. Ande pela praia do Tofo até chegar na de Tofinho e, depois, continue até o final dela – subindo o morro, você encontra o monumento que homenageia guerrilheiros da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), mortos na luta pela independência do país, colonizada por Portugal até 1962. Mais abaixo, à esquerda, é possível ver a Garganta dos Afogados, local onde se torturava e assassinava os partidários. Me encantei com a paz do lugar, apesar da história que guarda. Vale pontuar ainda que o Tofo é um ponto famoso de mergulho em Moçambique – nos meses de setembro a abril, dá pra ver Tubarões-baleia (um sonho meu que ainda há de se concretizar, boto fé!).
Vilanculos: 4 dias. Olha, não vou mentir: Vilanculos é longe, mas a verdade é que vale a pena. Imagine um lugar onde mal tem espelhos. Onde o tempo não passa. Onde meninos brincam de puxar seus barquinhos de isopor e mulheres arrastam um passo à frente de outro em busca de siris pela água de sete tons de azul.
Não espere encontrar baladas por aqui – Vilanculos é praticamente uma vila de pescadores e a paz impera nas praias desertas. Se curtir água fresca, corra pro mar de manhã – a maré oscila muito e, quando depois que passa pela baixa, a água fica morna fácil até o final do dia. Vale procurar pelo boat bar – um barco encalhado na areia que foi transformado em point pra tomar uma cervejinha gelada.
Além de curtir a praia, tem uma pancada de tours pra fazer – mas todos custam em torno de US$ 60, ouch. Recomendo o tour pra Ilha de Bazaruto – é uma day trip que inclui snorkel em alto mar e paradas na ilha (que tem dunas <3) e em bancos de areia que formam um cenário lindo de morrer. Fora o almoço delícia preparado na hora, com direito a frutos do mar (peixe, lagosta, casquinha de siri). Fui com a Dhow Safaris e achei o serviço bom.
Além desse passeio, também fiz o Ocean Ride e recomendo avaliar MUITO bem antes de decidir ir ou não. Eu teria facilmente trocado por uma visita a um santuário de cavalos-marinhos em alto mar, um projeto que tenta preservar a espécie da extinção na região causada pela caça ilegal por parte dos chineses por toda a costa de Moçambique.
Retorno a Maputo: 1 noite caso as 9h de Vilanculos de volta á capital moçambicana te canse. Daqui até Durban, a próxima parada, serão aproximadamente 7h de estrada – mas a boa notícia é que a África do Sul não exige visto de brasileiros!
África do Sul
Durban: 3 dias. Só se ouve falar em Cape Town e Johannesburgo quando se pergunta sobre pontos turísticos da África do Sul, mas Durban é a cidade que praticamente todo sul-africano indica a visita. Tem uma influência oriental tremenda já que foi o ponto onde os colonos indianos foram alocados pelos britânicos na era colonial sul-africana. Como infelizmente não tive tempo de ir à cidade, não posso dizer muito sobre o que fazer por lá – mas o que me deixou com desejo de visitar um dia foi o cenário que amigos que nasceram lá me descreveram: uma cidade cosmopolita, mas praiana, com direito a um calçadão onde a galera anda (muito) de skate. E se não deu tempo de curtir um mergulho no Tofo, Durban é outro ponto do roteiro em que dá pra se aventurar no fundo do mar.
Dica de taurina: Sabe aquele queijo coalho que a gente ama comer na praia? A versão de Durban é o abacaxi com especiarias. Ov e KK prepararam quando estivemos no Tofo e devo dizer: é BEM exótico, mas adorei! Outro quitute local que eu não deixaria de experimentar é o Bunny Chow, essa torre de pão recheada que aff, me deixou com água na boca (e cujo nome me faz cantarolar o hino de La Casa de Papel)!
Garden Route: 7 dias. Minha maior dor na viagem até agora foi não ter feito a Garden Route, que nada mais é do que um circuito batido de praias e vilas ao longo da costa oeste sul-africana.
Dá pra ir de carro e de ônibus. A primeira opção fica mais em conta se dividir o carro com outras pessoas e aí você pode fazer no seu tempo. É um esquema comum dividir o aluguel do carro e pode ser fácil encontrar outros viajantes que topem a jornada. Pra encontrar mais gente, você pode deixar um aviso na recepção da acomodação ou, se tiver essa opção, lançar no grupo de whatsapp do hostel. Pra segunda opção tem o BazBus, que faz um esquema porta a porta nos hostels/hotéis. Você paga um valor fixo pelo pass, que pode ser de 7, 14 ou 21 dias e, dentro desse tempo, você pega o ônibus quantas vezes quiser até a próxima parada, desde que seja sempre o mesmo sentido.
Cidade do Cabo: 5 dias. Não tem como não se apaixonar por essa cidade tão complexa, diversa e rainha do design e dos cafés. É um prato cheio pra todos os gostos: tem trilhas, mercados de rua insanos como o Mojo Market e o Old Biscuit Mill, free walking tours pros pontos históricos (são três circuitos que saem do Motherland Coffee Company na St. George’s Mall: do Apartheid, de Bo Kaap e o Histórico). Vale dar uma olhada nos posts que fiz sobre Cape Town:
- Achados na Cidade do Cabo
- Impressões da Cidade do Cabo
- Trilhas em Cape Town
- O que você precisa saber antes de ir à Cidade do Cabo
Minha dica pra montar o roteiro do que fazer em Cape Town é, basicamente, se deixar flexível pra encaixar as trilhas escolhidas assim que possível. Isso porque o tempo oscila demais na cidade e, se chove, nubla ou rola um vendaval, alguns passeios fecham (como é o caso da Table Mountain) e corre-se o risco de não ver nada quando chegar no topo (aplicável a todas as trilhas). Abriu solzão? Vai subir algum morro!
último dia: partida de volta pro Brasil… fuén!
Sobre os vistos (2019/2020): a África do Sul não exige para brasileiros, mas Moçambique sim.
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