Assumindo minhas honras

Dos lugares onde os sapatos vermelhos me levaram, dois me surpreenderam e muito.

Nunca imaginei que receberia um convite para um encontro com o Primeiro-Ministro do Egito, vossa excelência Dr. Mustafa Madbouli, e o Ministro da Juventude e Esportes, Dr. Ashraf Sobhi, no Gabinete Oficial da Presidência – muito menos que arrancaria alguns sorrisos ao contar a história da mochileira.

Foto de grupo com o Primeiro-Ministro do Egito, vossa excelência Dr. Mustafa Madbouli, o Ministro da Juventude e Esportes, Dr. Ashraf Sobhi, e o fundador do Nasser Fellowship for International Leadership, Hassan Ghazaly
A reunião aconteceu no Gabinete Oficial: cada um contou sua trajetória até o momento
A mochileira sentada ao lado de Rakan Alresheedi, advogado e amigo da Arábia Saudita
Depois da reunião, fomos para um café local tomar chá: amigos incríveis da Líbia, República Central da África, Uganda, Sudão do Sul, Arábia Saudita, Jordânia, Paquistão e Hassan Ghazaly, líder e organizador do Nasser Fellowship for International Leadership

Também me pegou de surpresa receber uma homenagem da Leadership Cadres for Development, organização parceira do Nasser Fellowship – literalmente, eu estava me despedindo de todos e indo pegar um ônibus pra Dahab quando fui informada da surpresa que aconteceria no dia seguinte.

O que por si só foi um teste: a viagem estava toda paga. Segundo quem organizou tudo, se eu não fosse perderia todo o dinheiro. Eu não fazia ideia do que significava a homenagem – nunca tinha recebido uma antes. 😂 Mas quando eu e a mala já estávamos no portão de saída e de checkout feito e tudo, me deu um estalo. Meu corpo estava angustiado. Meu estômago doía, minha garganta segurava o choro querendo estourar. E na hora em que admiti e falei em voz alta que queria ficar só porque eu sentia que tinha que, o peso todo evaporou. Assumi a bronca e fiz check-in de novo.

*

No dia seguinte, lá estávamos nós recebendo a honra ao lado de três pilares do Cadres for Leadership Development: Hoda Saad, Presidente do Conselho e mulher incrível; do Major General Hatem Bashat e Chefe Conselheiro e do Dr. Mohamed Anter, Secretário-Geral e Gerente Executivo da instituição.

Hoda Saad, Presidente do Conselho e mulher incrível; do Major General Hatem Bashat e Chefe Conselheiro do Cadres Leadership for Development

Nas duas situações estive ao lado de outros participantes brilhantes, representantes da Arábia Saudita, Líbia, Paquistão, Uganda, Jordânia, Sudão do Sul, República da África Central, Palestina, Tunísia, Bangladesh e Somália. E em cada um dos eventos, por um segundo a Impostora questionou como eu tinha ido parar ali – “por que eu? Será que precisam preencher uma cota e levar alguém da América Latina?”

Salma Eshahed, do Egito. Majada Hashem, da Palestina. Suad Ibrahim, da Somália. Shougat Nazbin, de Bangladesh. Manel Ben Ammar, da Tunísia. Gloria Dei, da República Democrática do Congo. Alzubair Alborky, da Líbia. O time do The Society, do Paquistão: Qaiser Nawab, Dr. Shakeel, Zubair Taimoor e Shoaib Khan.

Senti que seria arrogância minha ficar feliz ou escrever sobre essas conquistas… Mas não posso mais fazer isso. Eu tendo a não querer levar o crédito, como se eu não tivesse feito nada pra merecer aquilo. Mas se eu não assumo a autoria pelo que me trouxe até aqui, então também não me responsabilizo pela minha jornada, por qualquer escolha feita pelo caminho e seus resultados, sejam bons ou ruins.

E a essa altura, depois de tantos tombos e mortes, não tem como não me honrar e enxergar minha força. Eu sou a dona dos sapatos vermelhos. Eles chegaram até aqui porque eu caminhei com eles, não o contrário. E afinal, não passou despercebido por mim que a Marina que saiu do Nasser Fellowship é muito diferente daquela que entrou: A leoa tinha nascido um pouquinho mais. Pegou no microfone, questionou, usou a voz, criou laços com líderes de mais de 50 países de uma vez só, fez acontecer. Foi mal, Impostora, mas não foi dessa vez…

Arquétipo da águia

Eu poderia só ter contado que ganhei um prêmio e pronto. Não precisava expor minhas dores e aflições – mas eu faço questão porque sei que são humanas, outras pessoas podem tê-las também… e sei como é fácil comparar seus bastidores com o palco alheio, como isso desanima mais do que incentiva. Deus me livre – quero mais é que vejam a minha arena!

Ao mesmo tempo, não é apagando o meu brilho que vou ajudar outros a brilharem mais, pelo contrário – é mostrando que é possível chegar a lugares inimagináveis que posso, quem sabe, incentivar quem precisa dar aquele primeiro passo rumo ao que o coração pede a elas. Pessoas nascem para brilhar e se tornarem sua melhor versão. E não é um título que valida a minha – é entender que eu posso ocupar lugares onde antes eu duvidei caber… e que ainda tem espaço pra muito mais gente.

Marina Pedroso

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