Buscando o que fazer no Quênia? Se você pedir por indicações de lugares para visitar na costa, qualquer local vai te falar sobre as praias paradisíacas de Diani, Kilifi ou Watamu. Mas se você perguntar sobre Marafa ou Hell’s Kitchen, há boas chances de muitos nem saberem onde fica. Trata-se de um cânion a cerca de uma hora de distância de Malindi, cidade mais ao norte da costa. Assim como o arquipélago de Lamu, uma das joias não tão exploradas do país.
O mito de Hell’s Kitchen
Séculos atrás, uma família morou nesse vale e ficou rica com a produção de leite de cabra. Os vizinhos, no entanto, não tiveram tanta sorte e viviam na miséria. Quando lhe pediram que dividissem um pouco de seu leite, a família se recusou… e logo Deus enviou uma grande enchente para destruir tudo que tinham, formando assim o vale erodido.
O guia poderia só explicar que o cânion aberto e esculpido por um rio que corre de abril a julho tem as cores vermelha, branca e amarela por causa do ferro, cálcio e enxofre – mas em vez disso, a cartela representa o sangue derramado pelo leite não compartilhado com as outras casas (que eram pintadas de amarelo).
Alguns dizem que é a racionalidade que separa os humanos de outros seres… eu acredito que, mais do que isso, é a imaginação. O poder de criar nossos mitos, nossas histórias e acima de tudo, de escolher no que vamos acreditar.
Umoja: o senso de comunidade africano
O mito é uma história sagrada criada para explicar não só a origem de um fenômeno, mas para viver no inconsciente coletivo, servir de modelo e guiar o povo que o herda rumo a uma realidade cultural construída. O que eu achei bonito (e que não me surpreendeu) foi o mito de Hell’s Kitchen falar do senso de comunidade que é tão essencial na cultura africana: aqui não tem essa de não dividir, aqui é umoja – palavra em swahili para “estamos juntos”.
O que saber antes de ir a Hell’s Kitchen
Ok, terei de dar um spoiler: por que raios o vale se chama Hell’s Kitchen? “Desça ao meio-dia e você será cozido num inferno de 42ºC”, me respondeu o guia que, aliás, é obrigatório. Além de levar Ksh. 1500 em cash para a entrada (preço de 2020), leve gorjeta – os guias são da comunidade de Marafa e qualquer turista que recebem é de grande apoio à economia local.
Não se esqueça do boné, protetor solar e um tênis cuja sola não derreteria… o calor é realmente intenso e o passeio percorre por dentro do cânion, completando toda a volta ao longo de 1h30 a 2h. Por isso mesmo, os melhores horários para visitar são antes das 10h e logo depois das 16h. Eu fui de manhã, mas soube depois que a luz do por-do-sol batendo nas rochas degradê é a coisa mais linda!
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