O frio era intenso no Serengeti. Era meia-noite e eu precisava tomar uma decisão: sair para fazer xixi ou tentar ignorar e dormir? Como sou o tipo de pessoa que não consegue se concentrar enquanto tiver uma gota que seja, tomei coragem e fui até o banheiro do acampamento. O breu era total e me sentia andando em um campo minado: apontava a lanterna do celular pro chão afim de evitar acidentes envolvendo meu pé e bosta de búfalo. Só o Glauco tinha pisado duas vezes desde que chegamos.
Na volta, apontei o celular pra cima e… paralisei. Pontos brilhantes flutuavam na escuridão em volta da barraca e depois de alguns segundos atinei o que eram: oito pares de olhos de búfalos voltados em minha direção.
Não teria me assustado se não tivesse ouvido naquele dia, mais cedo, como o búfalo é um dos mais perigosos dentre os Big Five (elefante, rinoceronte branco, leão e leopardo são os outros quatro no pódio) por usarem o ataque como uma defensiva – e, bem, quando dois búfalos batem cabeça, a força equivalente é a da colisão de um carro a 50 km/h contra a parede. Imagina que que não podem fazer com o saco de carne que é o corpo humano?
Minha mente zunia pensando no que fazer quando também congelou, dessa vez com o som de algumas patas batendo contra o chão, de corpos maciçamente pesados se erguendo e de tambores internos – esse último era meu coração que batia com terror. Podia correr em direção ao refeitório ou podia voltar ao banheiro, onde tinha luz e eu podia ter um campo de visão. Então decidi: corri feito Usain Bolt em direção à barraca, abri o zíper com os dedos nervosos e me joguei pra dentro. Ouvia os maxilares ruminando do meu lado, as patas arrastando grama. Tentava não respirar – recapitulei todos os filmes de terror que tinha visto na vida em busca de dicas e eu sabia que expressar qualquer sinal de vida era A deixa pra qualquer coisa me encontrar.
Não lembro como, mas dormi. Quando abri os olhos na manhã seguinte constatei que ainda estava inteira. Aparentemente, a barraca também.
Os búfalos não eram os únicos que dividiam o espaço pra dormir. Na outra noite, já deitada na barraca, lembro de ter ouvido uma risada esquisita demais. Dormi achando que eram os guias zuando a galera, mas no dia seguinte me perguntaram se eu tinha ouvido as hienas…
Era emoção que você queria, né, Marina? Então toma mais!
Deixe seu comentário