Turistar é diferente de viver o mundo – é uma das coisas que tenho aprendido viajando devagar. No começo me batia uma fobia de não conseguir fazer e visitar tudo, como se aquilo significasse que eu não estava curtindo ao máximo. Mas te digo: Não dá pra fazer passeio todo dia e nem quero mais que seja assim.
Quero me deixar surpreender com experiências que não são vendidas em agências – tipo jogar futebol na maré baixa com um bando de Masai Mara no meio de uma ilha na Tanzânia. Ver aquelas figuras espichadas correndo atrás da bola cheios de panos, facões e penduricalhos.. e perceber que eu estava em desvantagem: afinal, não tenho um cajado pra usar como terceira perna! E mesmo depois de jogar mana a mano e até dar rolinho, terminar a partida, ouvir as perguntas de sempre e ver os olhos arregalados em choque quando respondo que tenho 27 anos, não sou casada e só pretendo ter um ou dois filhos daqui uns bons anos.
A razão do choque: no caso da tribo Masai, mulheres são compradas das famílias com vacas, a moeda deles, casam precocemente e devem ter no mínimo alguns filhos. De experiência em experiência vou entendendo como o outro enxerga o feminino em sua cultura e que lugar eu quero ter como mulher e pessoa no mundo.
Mas enquanto a bola rolava, por um momento na história, fomos iguais. E isso nenhuma agência poderia me vender.
Depois que tiramos a foto do time, fui no mercado dos Masai Mara e comprei tornozeleiras. O motivo de ter tantos aqui em Zanzibar é em razão – justamente por ter o gado como moeda e um sistema de cultivo como autossustento, em anos de seca a coisa aperta. Fora que muitos também desejam entrar para a universidade e buscar soluções do mundo moderno para levar de volta ao vilarejo.
Porque são muito temidos, muitos são contratados como seguranças – afinal, pelo menos antigamente, fazia parte do ritual de iniciação dos homens matar um leão. Um dos meninos com quem joguei, inclusive, me contou que havia passado nesse teste…
Eu gosto muito desse TED Talks – apesar das atrocidades que as mulheres Masai Mara podem ser submetidas e da própria concepção sobre o gênero me incomodar profundamente, sempre busco evitar a generalização com outras referências e olhares. Foi assim que encontrei Joseph Koyie, que ajuda a quebrar o nosso tabu e os tabus de sua própria cultura. Vale assistir!
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