Não sei se era o 46º ou 48º dia de quarentena, mas depois de tanto assistir da varanda aquelas figuras andando pela praia eu tive que descer e dar um estalo na mente.
Parece banal. Eu já tinha visto os camelos no vídeo game do Aladdin e em fotos do Marrocos. Mas por deus, nunca com meus próprios olhos. E só por isso eles não existiam no meu perímetro de mundo. Ver o novo eletriza meus neurônios. Presenciar uma possibilidade que até então só existia na teoria deixa meu cérebro chapado enquanto assiste à rainha ditadora levar uma torta na cara: a mente para de agir como se já soubesse de tudo. É quase que uma prova de que sim, existe muito além da rotina. Ver uma montanha no fundo de tela é diferente de escalar uma. Lembro como implodi quando vi Saturno por um telescópio no meio do deserto do Atacama – livros de ciência me contaram que existia, mas até então só no meu plano mental. Quando eu testemunho, trago pra minha realidade, materializo, torno aquilo parte do meu mundo. Automaticamente, você expande seu território e a si.
Porque tudo que os olhos alcançam é o seu reino, Simba, mas é claro que se você ficar parado no mesmo lugar vai enxergar sempre as mesmas árvores. As dimensões se invertem: o mundo encolhe na mesma medida em que os problemas aumentam. Quando saio em busca da ave rara que me disseram existir lá no extremo oriente, a jornada por si só me lança na mina própria pequenez diante de tudo – quantos sabores ainda não conheço? Quantos cantos dentro de mim ainda não explorei?
Claro, tem um lance importantíssimo sobre ver camelos ao vivo: eu nunca teria entendido a proporção que eles têm, muito menos como eles se parecem absurdamente com aquele robô do Star Wars. Mindblowing demais.
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