Eu falhei.
Escrevo isso depois de uma semana e meia na Etiópia, onde passei mais tempo querendo estar dentro de casa do que conhecendo a capital. Um dia depois de comprar a passagem, o primeiro-ministro declarou guerra com a região de Tigray, ao norte, e já são 30 mil refugiados no Sudão. Apesar de estar fascinada pelo país como previ que ficaria, entrei numa melancolia: como escrever sobre o que tem me encantado quando há pessoas morrendo no mesmo lugar que eu? Estou falhando como humana?
Escrevo essas linhas sentindo a gastrite bombardear meu estômago e a cabeça martelar – o corpo exalando a ansiedade e a masturbação mental em que me meti esses dias todos pensando no futuro que falhei em construir. Sinto que falhei porque estou em um mochilão de volta ao mundo e não tenho conseguido produzir nem postar todo dia como o esperado. Sinto que falho porque tem vezes que levo um dia inteiro pra escrever um texto e nem assim consigo terminar. Sinto que falharei porque parece que ainda não encontrei o melhor formato pro meu projeto – na verdade, será que eu não podia fazer melhor do que isso?
Escrevo isso depois de repetir pela milésima vez que não estou dando conta – de responder todo mundo nas DMs e no whats no mesmo dia em que me escrevem, de dar atenção pra minha host, de estar presente em um projeto que estava participando com outras mulheres, de estar presente pro meu próprio projeto, de estar presente pra mim mesma. Aparentemente, tenho mais tempo agora do que quando estava em São Paulo… como é que pode eu estar produzindo menos?
Eu falho quando sincronicidades acontecem aos montes, mas não consigo captar a mensagem. Eu falho quando me pego dependente de sinais externos pra seguir um caminho ou não – preciso confiar mais no que eu quero e parar de usar o universo como muleta ou validação. Afinal, as respostas estão todas do lado de dentro… mas daí também falho em me ouvir. Eu falho porque deixo a Impostora assumir o comando e vezes sem conta ela me diz que porque eu falho tanto sou fraca, incapaz, indigna da minha missão.
Essas eram as coisas que eu estava falando pra mim mesma dez minutos atrás. Mas no meio de tanto tiro, porrada e bomba, uma vozinha soprou no meu ouvido: “você não precisa aceitar nada disso como verdade”.
E aí, chorei de alívio. Lembrei que eu posso escolher a história que me conto, a realidade que eu crio. Lembrei quem eu sou. Lembrei que meu caminho quem faz sou eu.
A impostora é minha fraqueza, mas também é ela que mostra a minha força. Foi por essa sombra que encontrei o lado luz da heroína. Ainda é difícil dominar a transição de uma pra outra, mas encaixei mais uma vértebra na coluna vertebral que venho construindo desde a caverna do Quênia.
E, disso tudo, a única verdade que eu resolvi ficar é que eu falhei, eu falho e eu falharei. Foi um desafio brabo pra minha capricornianice, mas libertador – primeiro porque isso não me define como a Impostora me dizia. Segundo porque quanto mais cedo assumo que falhei, mais cedo posso recomeçar. E eu acabei de me dar essa permissão.
Se alguma mulher mundo afora ressoar com esse desabafo, a vozinha mandou dizer: você pode escolher ser impostora ou heroína mas, antes de ser qualquer uma delas, você é humana.
Me conta: O que você diz pra si mesma e que, a partir de agora, não aceita mais como verdade?
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