Foi o que perguntei pra mim mesma em um dia perdido de 2015 – tinha acabado de chegar do trabalho e, sem conseguir respirar direito, me encontrava deitada em forma de estrela no chão desesperado do meu quarto. “Deus, preciso sair daqui. Fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Mas o quê?”
Nunca fui fisgada pelo sonho do carro ou do apartamento próprio, que trazem junto as prestações de mil meses e as taxas eternas de manutenção. Aliás, nunca comprei a fórmula que sempre enxerguei como uma sequência de pequenas prisões – o que não quer dizer que eu tenha deixado de cumpri-las. Primeiro, me matar de estudar só pra responder perguntas que não importam no vestibular. Depois, conseguir um emprego e me matar de trabalhar só pra fazer girar engrenagens que não me incluem, não incluem meus próximos e muito menos pessoas em situações piores (trabalhar pelo sonho de outra pessoa e/ou ver meu esforço aumentar a conta bancária de um megaempresário que não precisa de ainda mais dinheiro nunca fez sentido pra mim). em seguida, casar e ter filhos antes dos 30 só porque depois disso pega mal – nada contra quem já achou o parceiro e realmente teve um despertar do instinto materno, mas 1) é uma puta pressão machista e 2) depois disso não dá pra negar que você vive amarrada/em função de um serzinho e não pode mais decidir nada por você mesma, sem considerar ele na equação. Sem contar, ao longo desse percurso todo, o bônus de ser escravizada pelos boletos de coisas que os outros acham legal eu ter, mas que não fazem a mínima diferença na minha vida.
Nada dessas coisas traduz pra mim o significado de “fazer algo com a minha vida”. Pelo bem ou pelo mal, constatar isso foi um primeiro passo para entender o que eu queria realmente: definindo o que não queremos, chegamos mais perto daquilo que é pra ser.
Não sei se é uma referência Hollywoodiana – afinal, como escapar das lavagens cerebrais nossas de cada dia? -, mas, deitada no chão do quarto, imaginei que quando eu estivesse, de fato, fazendo a tal coisa, eu saberia. Uma adrenalina, uma sensação de eureka, sei lá.
Alguns meses depois desse dia fitando o teto do meu quarto, fissurada em blogs de viagem e em promoções de passagens áereas, comprei uma pra passar quatro dias em Nova York, minha primeira viagem sozinha. Eu mal desconfiava, mas naquele momento de decisão eu também estava comprando minha passagem só de ida pro mundo que viria a acontecer anos depois.
Corta cena, depois de alguns mochilões pela América do Sul e Brasil comecei a juntar dinheiro de um jeito consciente mas, ao mesmo tempo, inconsciente. Fiz um curso de educação financeira sem pretensão – só por ser algo empoderador pra uma mulher – e comecei a investir meu dinheiro. De um ano pra cá, sem perceber, fui desacelerando minhas viagens e pensando 5x antes de comprar uma brusinha. Passei a brincar de encher o carrinho em lojas virtuais pra logo em seguida apertar o X no canto superior. Só comida que sempre foi um problema (o tanto que gasto com isso não é brinks).
Agora, estou prestes a embarcar em uma viagem pelo mundo. Eu continuo não sabendo o que devo fazer com a minha vida. Mas, pelo menos, encontrei uma rota alternativa à que me deram antes e que não me satisfazia – uma que me dá frio na barriga, energia no cérebro, coração a mil. Uma que, de um jeito que não sei explicar ainda, faz todo o sentido. Pra onde ela vai me levar é uma incógnita. Mas o essencial mesmo é levantar do chão do quarto e começar a se mexer – fazer alguma coisa com essa vida.
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