Cada dia que passa se fortalece a noção de que minha casa não é um lugar físico. A sensação de lar eu encontro nas pessoas que cruzam meu caminho e que me acolhem. Quando me dão uma cama e roupa lavada, mas principalmente quando me deixam acessar suas rotinas, suas histórias, seus universos.
E aí fica difícil dizer adeus. Escrevo isso do táxi, às quatro da manhã, depois que chorei de aperto por ver a mãe de Ov acenando da porta – ela tinha me acolhido e virado minha mãe também. Me pergunto, a caminho do aeroporto, por que estou fazendo isso. Qual é o sentido dessa viagem? Eu tenho uma casa no Brasil, tenho meu dinheiro, poderia viver bem e seguir uma vida normal – não ter saudade da minha família, do meu amor, ter chuveiro quente em vez de banhos gelados de baldinho, roupas passadas com cheiro de amaciante, comida três vezes ao dia. Não teria que desmontar e montar o mochilão a cada três ou quatro dias, guardar minha vida em saquinhos, tomar decisões grandes a todo momento, me ver na rua depois de um host me dizer gentilmnte que preciso sair no minuto seguinte. Não precisaria passar por tantos perrengues. Não precisaria dizer adeus.
Mas sem isso, não conheceria pessoas que tornam esse adeus mais difícil. Não expandiria a mente com novos pontos de vista, novas culturas, novas realidades. Não conheceria o mundo além da minha bolha, não viveria momentos inusitados que vão ficar na memória – não viveria, ponto. Porque não me perdoaria por não ter atendido ao meu coração.
Por mais que doa partir quando sinto que encontrei pessoas que são um espaço seguro, cada dia que sigo nessa viagem é mais um sim que dou pra vida. São ossos do ofício pra quem decidiu morar no mundo.
Deixe seu comentário