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A volta do primeiro mochilão em 2016

É engraçado: todos os lugares em que estive durante meu primeiro mochilão de vinte dias, em 2016, por Chile, Bolívia e Peru, eram muito altos. Coisa de 3.800 a 5.200m de altura. Tive medo e me entupi de folhas de coca, mas não passei mal de soroche. Aconteceu o inverso. Quando voltei aos 700m de São Paulo, fiquei meses me sentindo mais aérea, meio bêbada, desequilibrada. Pareceu que algo estava desencaixado. Na verdade, esse algo podia muito bem ser eu mesma. 

Melhor nem contar como cheguei aí…

Foram só 20 dias, mas o suficiente pra entender que existe outra realidade possível além daquela que conhecia antes. Por isso mesmo, foi tão dolorido ter que voltar ao velho molde. Doeu porque eu já não cabia mais nele – precisava entrar em uma forma de gelo quadrada quando já tinha virado estrela. Porque passei a me alimentar de liberdade, cresci por dentro, expandi a cabeça e o coração, tomei outra forma. Até hoje não sei dizer qual exatamente, mas alguma coisa mudou.

Por um bom tempo, não me encaixei mais mesmo. Minhas roupas já não me serviam mais. Estranhava qualquer comida que não fosse “pollo”, batata ou sopa de quinoa. Tinha desacostumado com o português – nem sei quantas vezes respondi “gracias” em vez de “obrigada” nos dias seguintes da volta. No dia mesmo em que retornei ao Brasil, foi um choque chegar em casa e sentir que ela mais parecia uma memória nostálgica, como se fosse lembrança de um período distante da vida, como a infância ou a adolescência. Minhas quinquilharias no quarto? Já não sabia pra que serviam nem por que eu tinha tudo aquilo. 

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Fiquei como que flutuando nesse tempo e espaço que já tinham sido meus, mas não eram mais. Aquela realidade era uma velha conhecida, mas nos despedimos no momento em que entrei, com mochilão nas costas, pela porta de embarque do aeroporto. Rumo a um mundo novo. Rumo à minha nova casa. E se minha nova casa é o mundo, todos os lugares e pessoas que posso conhecer, então de repente passei a não pertencer a lugar algum.

Marina Pedroso

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